sexta-feira, 2 de outubro de 2020

| Miniconto - Afrodiaspórico |

Era uma vez, Maria.

Mulher adulta tomada de euforia e ansiedade por uma notícia recente.

Desde então, Maria passava muitas horas lembrando da menina que foi.

Pensava também nas infâncias dos cinco filhos, hoje já grandes.

Nesse passeio com as memórias, lembrou-se das bonecas que tinham. Avistou a cena da primogênita ainda infante, chorando copiosamente dizendo que havia nascido com a cor errada, buscando produtos de limpeza para esfregar-se.


Maria, em lágrimas, num pulo voltou para 2020. Pegou sua bolsa e saiu sem avisar pra onde.

Passado algumas horas, chegou com um pacote caprichosamente embalado e o guardou em silêncio. E assim ficou por um tempo. Toda mistério.


Meses depois, no chá de bebê da filha, levou o presente.

A boneca que em suas infâncias não tiveram, mas que a neta poderia brincar.

Mãe e filha se abraçaram, a neta da barriga sentia tudo.


"Daqui a pouco tempo, quando ela sorrir ao se olhar no espelho, serei eu a presenteada."

Disse Maria, a avó.



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toda história é tendenciosa,

toda história, por mais que se disfarce, tem um propósito. escancaro nessas linhas, alguns dos meus.


janaína moitinho     _______________       sp, outubro de 2020


obs: exercício feito para compor avaliação em disciplina ministrada por Milton Cunha na pós-graduação em Relações Étnico-Raciais da UCAM.

| Miniconto - Povos da mata |


Disseram que Iracema entrou na faculdade. Hoje será sua primeira aula.

A menina estuda tanto que o cacique Irapuã decidiu que será a responsável por registrar e proteger os saberes do nosso povo nesse espaço. 

A gente sabe que precisa estar em todos os lugares, senão eles acabam conosco, como vem fazendo há centenas de anos, desde as invasões.

Mas a gente resistiu. Com muita luta e muita festa.

Os encantados nos protegem e mostram as armas que devemos usar.

Somos suas sementes.


Aliás, preciso ir agora, já é hora de fazer o pirão pra celebração dessa noite. Dançaremos com nossos ancestrais para comemorar a notícia. 




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toda história é tendenciosa,

toda história, por mais que se disfarce, tem um propósito. escancaro nessas linhas, alguns dos meus.


janaína moitinho     _______________       sp, outubro de 2020
obs: exercício feito para compor avaliação em disciplina ministrada por Milton Cunha na pós-graduação em Relações Étnico-Raciais da UCAM.