terça-feira, 28 de abril de 2015

lados


és
passos
com
passos

preencho
folhas e lados
braços e lábios

mostro as dores 
feridas e fardos

estrofes
versos

sempre alguém ao lado

nem sempre de fora


(jm)

romper



lembrar de romper
romper o ciclo
opressor > oprimido
oprimido > opressor

não há de ser caminho inverter tabuleiro
trocar de lado não muda jogo perdido

respira
respira

não devolva em igual moeda,
sair desse ciclo é que liberta.

(jm)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

gol(p)es


nesses tempos
soa difícil
revolucionar

soa difícil
amar

soa difícil
aguentar golpes
fortes tão fortes
que enquanto escrevo
sinto tinta sangrar

(jm)

quinta-feira, 23 de abril de 2015

alfabetizando


caminho nada suave
escolhido rumo sem cartilha
pontilhados engessam passo

seguir livre
é escrever trêmulo
impreciso
verdadeiro

oposto do mais vendido

talvez seja hora
de um novo
começo

(jm)


sábado, 18 de abril de 2015

árvore dá vida


caem
folhas
caem
frutos

a árvore
sabe a hora

quando pesa
quando sobra
derruba

do alto
pode ver
a decomposição

novo destino
do lançado

alimentar raiz
incorporar-se
de novo
onde nasceu

o tempo
do alimento
adubo
voltar a brotar

eterno ciclo
meu

(jm)

t (r) ama



divagar
se ama

longe

(jm)

voraz cidade


na sede do corpo
devorava as letras

beijava ideias
deslizava os olhos vorazes
em cada curva
palavra

dizia conseguir sentir os gostos
pele
gozo
ao degustar as rimas
devagar
exalando amor

excitava-se ainda mais
no rebolado ritmado
a provocante cadência
em cada página proibida
adentrando corpo vivo
que sentia
-e era-
poesia

(jm)

quarta-feira, 15 de abril de 2015

sobre o caos



não adianta
se propor a organizar
o caos alheio

a organização não é só física
ordem provém de dentro

(jm)


terça-feira, 14 de abril de 2015

capitamor


as relações
cada vez
mais monetárias

o amor
custando caro
exigindo mais
que notas
ficando impossível
de
(a) pagar


(jm)

acend


o aceno
do tchau
virou
adeus

na memória
cada dia
menos
teu


(jm)

domingo, 12 de abril de 2015

dejeItos


se me privo,
privada fico


/e aí, só vem merda\

(jm)

rota rato roto


inútil tentar brigar
com roteiro
muito se desenha sozinho

acato
e aguardo
as próximas cenas

protagonista
não dá pra ser todo dia
na trama da própria vida
a gente faz todos os papéis

tem dia de vilão
e mocinha

hoje?
hoje aceitei figuração
e me faço muitas

mesmo sozinha

(jm)

se sabe...


ela não sabe
se vale
pelo que diz

se vale
pelo que faz

não sabe
de fato
os porquês
de seu existir

mas se esforça
pra não o gastar em vão

partes tuas
deixa nas lutas

teu tempo dedica
ao que acredita poder salvar

as vezes é a si
as vezes é alguém próximo

quando gulosa
julga alcançar mundo

mas sabe que é limitada
e que se conseguir mudar
e melhorar a si
já será um grande feito

(jm)

sexta-feira, 3 de abril de 2015

3 de abril


São Paulo, 3 de abril de 2015.

À pessoa presente,

<É difícil, mas alguma hora é preciso começar a estudar e falar da própria história.
Aqui o ensaio da parte estruturante da minha. Sobre ela e nós, em seu aniversário.>

Mães dão luz aos filhos e os fazem literalmente, os holofotes se viram e por muito tempo é sacrifício, sacrifício, sacrifício.
Aos filhos, luz. Pra si, sombras.
Primeiro entregam o corpo, pensamento, depois o sono, o tempo. mais pra frente os anos passam e são esses e muito mais.
Não que se esqueçam das próprias vidas mas é frequente colocar-se em último, até mesmo afastar-se dos planos e sonhos pra ajudar no vôo das crias. As vitórias são comemoradas como tuas (e são), as derrotas choradas juntas mas os novos meios pensados e realizados assim também. É quem torce, patrocina e viabiliza muitos feitos, tão nossos.
À minha agradeço cada socorro, mesmo os que não pedi ou notei precisar, eles sempre vieram. Desde as fantasias nas festinhas de escola, o trato no cabelo, a meia calça que faltou na última hora, o dinheiro do táxi, o fogão que sempre cozinhou amor, até as vezes que me decifra com maestria (que não a toa começa com esse conjunto de letras), enxergando a dor profunda que em vão tento ocultar. Mães sabem tudo, não do mundo mas de seus filhos. Sim, não duvide, perto ou longe, elas sempre souberam, sabem, saberão. Sabem porque sentem, se não contam é pra respeitar a sua ilusão de novidade ou não impedir o tom de segredo ao confessar.
Hoje vejo o que esse nosso percurso significou, o quão fundamental é a presença, os laços e as raízes.
Se tenho ou tive algum brilho reconheço reflexo de quem me lançou, na vida, nos livros, artes, debates e reflexões. Crescer num ninho de amor cercada por livros, música e amigos alimentou mais que qualquer item de padaria que por ventura faltou.
Mãe, fizeste-me "crer ser", o ser que sou sem você seria certamente outro (e duvido que melhor).
Então comemorando muito sua existência agradeço tudo que foi, que é e pelo que virá.
Me desculpo por muito também, os feitos e não feitos destes meus 30, mas sei que as falhas e faltas -nossas- também embelezam o processo. São eles, o amor e o erro os ingredientes que nos fazem singular. Me desculpo de novo e ainda mais por me dizer (e sentir) poeta, mas ainda não saber parir nem mesmo uma poesia digna de ti.




ps: A tentativa de escrever é expressar aquilo que a boca ingrata nunca consegue lhe falar, um pouco de gratidão à quem mais merece por ser quem me fez. Hoje assumo mudança, viro os holofotes e devolvo um pouco a luz que sempre me deu. Saiba, no palco da minha vida -mesmo que eu não diga- quem reluz é você.


quinta-feira, 2 de abril de 2015

rio evolução

a revolução
em curso
assim como
e com
palavras

somos rio
que vai

fluindo
por encontro
e contorno

inundação


em tempo de seca
solo
e alma ,
ainda acredito
em quem tem
palavra
e fé
a jorrar

(jm)

que nunca nos falte
águapalavra