quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

| escorregadias |


a vida é crua
e o melhor de nossas peles
é quando estão escorregadias

os fatos são só fatos
e cada momento é único

toda beleza pra ser dividida
nunca precisou de hora marcada

e assim como as partidas
novas chegadas são sempre bem-vindas

(jm)

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

| onde |


tudo que alimento
me engole

tudo que procuro
me encontra

tudo que nomeio
me tem


de onde mais fujo
é ali meu endereço.


(jm)



| roxos |


cuidado com as armadilhas da memória

que te maquia os roxos

e faz querer de volta

o "amor"

e os socos.



(jm)



| tabuada |


não há matemática possível
soma ou subtração que dê conta

depois de você
comigo agora
é tudo embaralhado

jogo a tabuada
e enumero os dados

tudo foge ao controle

mas quando te vejo

sei bem o resultado


(jm)


domingo, 26 de novembro de 2017

| ceia |


na mesa larga e cheia
a cena
mais pintada
em todas as memórias

a superfície
dos pratos
e dos semblantes
quase vazios

repetidas fotografias
e falas

o milagre dos bons modos
e dos movimentos previsíveis
coreografados

falar da fome te estragaria o apetite?

do oco invisível
que sustenta a matéria humana
ninguém se pergunta?

fujo do roteiro
desobedeço e boto novas cartas nessa mesa

embrulho teu estômago
pra viagem
e dou pra alguém comer no caminho


(jm)

terça-feira, 21 de novembro de 2017

| tacos |


pulei a janela
não havia cortinas

os tacos desencontravam o chão
pisei com barulho
mas ninguém ouviu

as paredes que tanto já viram 
nada quiseram contar

móveis mastigados pelo tempo 
enfeitavam o cenário 

mapeando ruínas
encontro no espelho uma familiar

andando nos cômodos e lembranças

rastejando pelos cantos
da casa que não é minha


ninguém pra receber a visita.


(jm)

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

| busca - vida |


busco voraz
o poema que abrace
o poema que afague
o poema que diga
o poema que trague

persigo folha a folha
livro por livro
na estante que por pouco não cai em mim

abro um a um
corro os olhos na tinta preta
que os preenche
e me falta

títulos
vazios
temas
estilos e palavras chave
que nesse enquanto
nada abrem

a sede por decifrar os incontáveis porquês


brilho nesse instante,
tempo, alcance, texto

a dor
a busca
a beleza
e eu

fundidos.

desencontro o poema prévio
mas em páginas inéditas me encontro
viva

o ápice

daquilo que continua

a busca voraz
pelo poema que abrace
pelo poema que afague
pelo poema que diga
pelo poema que trague

se ainda não existe
emprenho-me e nutro
esperando que nasça.


(jm)

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

[ poema ]


não estou onde não fui


esse poema é de hoje
sempre será
mesmo que o leia depois.

a arte é do agora

presentificação

(jm)


domingo, 1 de outubro de 2017

| notícias |


as notícias não são boas
nada boas

não há avanço nas negociações
os indícios apontam que a guerra continua

nenhuma das partes envolvidas aceitou o cessar fogo proposto pelas nações unidas

é triste

mas as nossas notícias não são boas
nada boas

não houve avanço nas negociações

nenhuma de nossas partes envolvidas cessou o fogo proposto pelas nações unidas


e as chamas espalham-se
querendo encontro.


(jm)

terça-feira, 26 de setembro de 2017

| desmoronar |


a casa se move
a casa toda se move
e parada estou eu

a casa treme
do teto ao chão
seu tremor também é meu

a casa está a ruir
o teto esfarela
em nossas cabeças


deitada assisto

e espero

sou parte da paisagem

e da destruição.


(jm)

domingo, 10 de setembro de 2017

| 28 |


a Terra que gira e gira
em torno dos dias

28
até que tudo se reinicie

em sangue banho as pernas
e secreta comemoro
não gerar nova vida.


(jm)

| a menina morta |


aqui nessa casa
não se fala nesse assunto.

ninguém conversa com a menina
sobre o sangue na calcinha

ela chora
chora
chora

achando que está perdendo a vida

mas é só a menstruação
tingindo
a primeira
de muitas rotinas.


(jm)

| aranhas |



as portas foram fechadas
só os olhos permaneciam abertos
atentos aos móveis
ganhando poeira
e as teias elaboradas
nos cantos
das aranhas

que são as únicas vivas
aqui

(jm)


| lembranças |


tudo naquela casa lembrava o passado.

as paredes sussurravam segredos,
as janelas engoliam a solidão dos móveis,
o chão ameaçava ceder, já que o teto vivia a lhe jogar pedaços.

gavetas saltavam, arremessando o que já fora importante.

hoje tudo se vai.

não interessa. ninguém pra ver ou ouvir.

são lembranças descartáveis.
frente ao urgente seguir da vida

e da especulação imobiliária

- pode demolir, Sérgio.


(jm)


*texto criado na Oficina de escrita "Papel e Caneta" com a poeta Bruna Beber no Sesc Ipiranga, Agosto/17.

| sigo |


dentro
ou fora
do já estabelecido
tempo
per corrido

sou
existo
e vivo
porque ainda respiro

nos tantos murros
dados
vai faltando ar
sobrando hematomas

um único corpo
pra tantos capatazes

cada vez
é menor

a vontade
a espera
a gana

de continuar


abatida

por hora
sigo

só não prometo
(nem desejo)

ser infinita.


(jm)

domingo, 20 de agosto de 2017

| passo |


num passo de dança
há trocas

das mãos
dos lados

balanceio
que muda a vida

sendo mesma

a música

o par

que te promete estar

enquanto tocar

(jm)


quarta-feira, 2 de agosto de 2017

{ paraty }


por entre pedras e pedras
a brecha pra ser feliz

nela cai

não muito fiquei


(jm)


: Daniel :


julho se despediu com teu corpo
suspenso

por aí, desacreditam

numa tarde de segunda-feira
um grito se calou

e choramos
um infinito de lágrimas

logo por você
que sempre foi luz, ritmo e sorrisos
os maiores e mais bonitos que já vi

abraço sincero
peito sempre aberto

pois é, amigo.
peito aberto leva mais tiro e flechada, né

e você sangrou,
sangrou muito



que a nova caminhada possa te direcionar pra luz
e alguma paz
que aqui não teve


és grande

e inesquecível presença em nossas histórias periféricas
de arte,
luta
e afeto.


*

não esqueçamos
quanto maior a luz
tanto maior a sombra


*


(jm)


quarta-feira, 26 de julho de 2017

| mapas |


moço bonito, me ajuda

não entendo mapas

sempre adorei me perder


me ensina
como sair
desse lugar,

você?


(jm)


| promessa |


se cumprir
promessas
é que faz
o devoto

não conto o milagre
e perverto
o santo.

(jm)


*poema que integra o livreto "pedaços", a ser lançado hoje. ;)

| sonho |



sonho
ficar um tempo
dissolvendo
amarelando páginas
pelas prateleiras
de um sebo
até alguém me encontrar

e me levar
por 5 reais.


(jm)


domingo, 16 de julho de 2017

| paisagem |



o vermelho desejo na pele
o gosto de céu nos lábios
um brilho cadente dos olhos


juntos
vislumbrando o
pôr do sol
em meu umbigo

(jm)


terça-feira, 4 de julho de 2017

| gracias |



a celebração
pelos dias
todos

dos mal vividos
e murchos
que são só riscos no calendário
e experiência

aos sensacionais
que vivi

e jamais esqueci.


é preciso espaço
tempo
vazio

senão
tamanho brilho
de tão perto

pode cegar.


(jm)


domingo, 25 de junho de 2017

| tempo |


o gosto da certeza no beijo ao acordar

o café perfumando a casa enquanto te arrumas pra sair

o abraço que encoraja o abrir das portas

pra rotina que nos afasta em corpos

e faz querer domar os ponteiros do relógio


(jm)

segunda-feira, 19 de junho de 2017

| comportamento |


não sei me comportar
não sei onde encaixo
não me caibo

não sei bem o momento de calar
o momento de dizer
nem mesmo diferencio o momento de ficar ou fugir

não sei
não aprendi

a vida me deu minutos
aos montes

experiências incontáveis

mas eu...
eu não aprendi


não me comporto
como queria
nem como esperam

erro
cada
passo
meu


arrasto culpas
arrasto planos
rasgo contratos
atraso o ponto

perco a hora
perco ônibus
perco fôlego

mas da paixão não saio um minuto sequer
a ela todas as minhas horas
e atenções


meu coração tenta
mas também não (se) comporta.


(jm)


quinta-feira, 15 de junho de 2017

| casa viva |


teu ar
e o do mundo
indo e vindo nas janelas

teu olhar
dentro
e fora
pincela beleza aos móveis

as paredes assistem
todas as cenas
e sorriem ao nos ver dançar

desde os dias em que a paixão
ali fez morada

a casa também respira

e as portas nunca mais foram fechadas.

(jm)


quarta-feira, 7 de junho de 2017

| doença |


o corpo todo protesta ausência do outro imã

dói
dói
dói

invalida perspectivas outras

espirra o hoje
em atchins infinitos

escraviza a mente
só faz pensar uma silhueta
a todo segundo
seduzindo a memória


o apetite passa a ser único

no paladar d'alma viciada

só você
pra encher a barriga

do mundo


(jm)

terça-feira, 6 de junho de 2017

| pingos |


vento anuncia chuva

pássaros recolhem as vidas nos varais

ouço seu som
seguido do cheiro da terra - pouca - molhada

pingos e pingos de algo que alimenta
penetra mundo
faz e refaz o ciclo da vida
incansavelmente

sem falhas



(jm)


sábado, 3 de junho de 2017

| desespero poético |


as palavras guardadas não me deixam dormir

as palavras guardadas me acordam mais cedo


o sol nem nasceu

e já tenho frases e mais frases dançando na cabeça


a poesia não espera o despertador

e não liga para fuso horários


ela tem urgência

e não há nada mais importante a fazer

do que criar poemas


(jm)

| inominável meu |


escrevo
escrevo
escrevo

no começo sem intenção alguma

depois da primeira letra escrita
o fluir absoluto


não sei bem ou mal de quem diz

se me cavalgam
ou se crio de algum escondido inominável meu

só sei que acordo com palavras insistentes a cutucar
a espera de papel
ou tela
pra repousar.


(jm)


| movimento |


do que faz mover-se
de si

acordar com uma nova canção

um coral de pássaros a lembrar que amanheceu



não pedirei velocidade nos minutos hoje

pois quero degustar cada um deles


é um novo dia


e raiou dizendo que podemos ser e fazer o que quisermos

escolhamos a felicidade, então.

não há de ser tão difícil,



(jm)

quinta-feira, 1 de junho de 2017

| junho |


abrir os olhos
com um rosto a sorrir na lembrança

é fácil ser feliz sonhando
mais bonito é levantar-se querendo viver o dia que raiou

ouvir os sons da manhã
a acordar os sentidos
sentir a urgência do viver
abrilhantando a si

e preparando um infinito
para dividir


(jm)


segunda-feira, 22 de maio de 2017

| sono |


depois dos teus lábios não fui mais a mesma

imprimiste em minha pele algum código
que só responde bem aos teus estímulos

minha independência oscila
e me vejo pedindo presença

contando os dias para de novo estarmos colados
juntos
melados


a delícia na sintonia das vontades
dos corpos
dos papos

só o sono é que ainda fica desencontrado

mas é que perto de você
todo sonho está realizado

por isso não durmo,

viajo.


(jm)

| nome |



quando fecho meus olhos
todos os instantes são contigo

no retrovisor das memórias
o vivido querendo urgente ser repetido

enquanto o real é a estrada infinita
tapete frio e cinza 

seguindo na direção oposta
ao longe de onde já se chegou

que ao menos a retaguarda seja a certeza
de que há alguém esperando na volta

a escrita como carga preciosa 

um anúncio ao mundo
da paixão que alimenta e move o ser


levando
e sendo levado

como quem carrega um nome no parachoque

(jm)


domingo, 21 de maio de 2017

| sobre sons |


te escuto perto
falando baixinho
a voz que desliza feito bumbum molhado em tobogã

enquanto isso meu corpo grita vontades nada contidas
e se move
e arrepia

teu som é a primeira parte de você que me penetra alma
palavras pausadas
vogais e consoantes cadenciadas
as sílabas chegam fundo

e não há tempo para decodificar
eu as sinto

decifrar não é preciso
deixo que mais tarde
o tempo brinque
com o que ecoar de tudo isso


(jm)


quarta-feira, 10 de maio de 2017

#depoimento


ela me disse que quer te ver 

te espera todas as noites

vigia do mais alto que pode

ora inteira, ora partida

e cuida para que não te percas

por isso brilha 


(jm)



*desafio lançado por Daniel Viana, via facebook.

do desejo


vou abaixar o volume dos gritos
silenciar os ruídos do mundo

só pra te ouvir cantar baixinho
boca soprando nuca e língua delineando o ouvido

hei de conseguir sentir então

nítido
e pulsante

o ritmo
do teu coração
a dançar com o meu


(jm)


quinta-feira, 27 de abril de 2017

Ana Cristina


a aura dela brilha
sorri de corpo inteiro
abraça com alma

dança com as palavras
e se joga no mais belo do mundo
pois é onde mora

se entrega generosa
ao universo
que a acolhe e entende
considerando sua vinda
um divino presente.


(jm)

para Ana Cristina <3

quarta-feira, 26 de abril de 2017

imperecível da memória II



a memória é um fio
sensível
e embolado

não há pontas

por onde olho
tudo que vejo
são
e somos
nós.

(jm)


imperecível da memória


as cenas do vivido
não esquecido
a memória intacta
de tudo que foi
meu
e teu
o belo conjunto
tão nosso

bem guardada
a conjuntura
filme que assisto
sempre esperando outro desfecho

os dias passam
tantos
sem fim

as horas não boas
levando a saúde
a sanidade
sem pressa
e nos poucos momentos de descuido
fujo
me abraço com as memórias

gravadas na alma

antes de irmos

-juntos-

embora


**


terça-feira, 25 de abril de 2017

das premonições

sonhos e premonições
das chegadas
e partidas

o abraço do adeus

a dor

ensaiada
pra quando acontecer

antever o futuro
sofrer sem forças de o conter

e o desejo profundo de estar errada.


(jm)


domingo, 16 de abril de 2017

olhos que puxam


teus olhos puxados sorriem
fecham-se em si
e me prendem
dentro desse rosto doce

me agita
acelera pulsar
e vontade

revira corpo,
vida

entra e sai
entra e sai
entra e sai
entra e sai

deles

tantas e tantas vezes


até que em alguma hora,

fica.


(jm)


poemas repetidos


escrevo poemas repetidos
incansáveis linhas vãs
que não comunicam
nem tocam onde miro

a escrita é minha
o alvo é você

mas na real o melhor da vida
nem é preciso dizer

eu só tento eternizar
aquilo que não pude reter.


(jm)


é tudo um jogo


é tudo um jogo
é tudo um jugo

passos dados em lados determinados
rotinas e itinerários pouco compartilhados

caminhando em rumos ilhados
cada qual em seus quadrados
com lágrimas e angústias

sem ninguém ao lado.


(jm)


redemoinho


o redemoinho dentro
que bagunça
as poucas certezas
colecionadas no caminhar

sacudindo os seres
apegados em solidão

defendidos do amor
que julgam não merecer


(jm)


terça-feira


a vida
correndo
dia
após
dia
seguidamente
fodida

rotina que suga
acinzenta
o
fazer
antes
tão
bonito

tudo segue frio
igual
dia
a dia
em cada um
menos
vida

até que
de repente

......

a pausa

.......

o clique
o tempo

a nuance
o mútuo despertar
encanto amante


o envolver de corpo e alma
o susto da paixão nunca planejada


a gente busca mudanças bruscas
planeja mil rotas de fuga
e quando vê
se aninha em um abraço bom
e quer nele morar

deixemos as malas e rotas pra lá
por hoje não quero sair desse lugar.


(jm)


sobre missões


enquanto a paixão doer
irei escrever


haverá tinta?

(jm)





sábado, 18 de fevereiro de 2017

a lua e eu


minguando
remoendo o que fui

nova
nesse escuro busco me reconhecer

crescente
vislumbre de um futuro que posso alcançar

cheia
plenitude, ápice de luz
imponência


(jm)




em tempos de golpe


não havia mais caminho algum
as pedras cresceram e encerraram o fio de saída

escolha ficar
ou lutar contra o que nunca poderá vencer

a força humana
é criativa
bela

tem boa vontade
mas não vence os verdadeiros obstáculos

por isso a estagnação geral
por isso tanto sangue e desistência.


as flores não venceram
mas quando fecho os olhos
ainda sinto o perfume
e vago

(jm)


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

4:33


não havia silêncio
era possível tocar a tensão na atmosfera do teatro

pessoas dançando de olhos fechados

sem alarde John tocou perfeitamente a música de cada um.


(jm)


* feito na oficina "o tamanho do miniconto" com Andrea del Fuego. jan/17

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

horizonte parede


abriu os olhos
percebeu um outro corpo colado ao seu
temeu a verdade daquele encontro
respirou

acariciou aquelas costas
em resposta um rosto ainda de olhos fechados
olhou em volta,
bonitas montanhas formavam seus corpos em horizonte parede

sorrisos correspondidos

a dança dos pés e o enroscar das pernas advertem:

quando o despertar é na pele
e arrepia

nem é preciso dizer bom dia


(jm)


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

~matrimônio ~



aquilo tudo
nunca será esquecido

o intenso enlace
o matrimônio dos sentidos

vivência e completude
alimentarão a poética por anos


talvez esse tudo
me dê assunto por toda vida


mas eu abdicaria

pra viver o teu corpo no meu

tua alma na minha.


(jm)