domingo, 26 de novembro de 2017

| ceia |


na mesa larga e cheia
a cena
mais pintada
em todas as memórias

a superfície
dos pratos
e dos semblantes
quase vazios

repetidas fotografias
e falas

o milagre dos bons modos
e dos movimentos previsíveis
coreografados

falar da fome te estragaria o apetite?

do oco invisível
que sustenta a matéria humana
ninguém se pergunta?

fujo do roteiro
desobedeço e boto novas cartas nessa mesa

embrulho teu estômago
pra viagem
e dou pra alguém comer no caminho


(jm)

terça-feira, 21 de novembro de 2017

| tacos |


pulei a janela
não havia cortinas

os tacos desencontravam o chão
pisei com barulho
mas ninguém ouviu

as paredes que tanto já viram 
nada quiseram contar

móveis mastigados pelo tempo 
enfeitavam o cenário 

mapeando ruínas
encontro no espelho uma familiar

andando nos cômodos e lembranças

rastejando pelos cantos
da casa que não é minha


ninguém pra receber a visita.


(jm)

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

| busca - vida |


busco voraz
o poema que abrace
o poema que afague
o poema que diga
o poema que trague

persigo folha a folha
livro por livro
na estante que por pouco não cai em mim

abro um a um
corro os olhos na tinta preta
que os preenche
e me falta

títulos
vazios
temas
estilos e palavras chave
que nesse enquanto
nada abrem

a sede por decifrar os incontáveis porquês


brilho nesse instante,
tempo, alcance, texto

a dor
a busca
a beleza
e eu

fundidos.

desencontro o poema prévio
mas em páginas inéditas me encontro
viva

o ápice

daquilo que continua

a busca voraz
pelo poema que abrace
pelo poema que afague
pelo poema que diga
pelo poema que trague

se ainda não existe
emprenho-me e nutro
esperando que nasça.


(jm)