terça-feira, 26 de setembro de 2017

| desmoronar |


a casa se move
a casa toda se move
e parada estou eu

a casa treme
do teto ao chão
seu tremor também é meu

a casa está a ruir
o teto esfarela
em nossas cabeças


deitada assisto

e espero

sou parte da paisagem

e da destruição.


(jm)

domingo, 10 de setembro de 2017

| 28 |


a Terra que gira e gira
em torno dos dias

28
até que tudo se reinicie

em sangue banho as pernas
e secreta comemoro
não gerar nova vida.


(jm)

| a menina morta |


aqui nessa casa
não se fala nesse assunto.

ninguém conversa com a menina
sobre o sangue na calcinha

ela chora
chora
chora

achando que está perdendo a vida

mas é só a menstruação
tingindo
a primeira
de muitas rotinas.


(jm)

| aranhas |



as portas foram fechadas
só os olhos permaneciam abertos
atentos aos móveis
ganhando poeira
e as teias elaboradas
nos cantos
das aranhas

que são as únicas vivas
aqui

(jm)


| lembranças |


tudo naquela casa lembrava o passado.

as paredes sussurravam segredos,
as janelas engoliam a solidão dos móveis,
o chão ameaçava ceder, já que o teto vivia a lhe jogar pedaços.

gavetas saltavam, arremessando o que já fora importante.

hoje tudo se vai.

não interessa. ninguém pra ver ou ouvir.

são lembranças descartáveis.
frente ao urgente seguir da vida

e da especulação imobiliária

- pode demolir, Sérgio.


(jm)


*texto criado na Oficina de escrita "Papel e Caneta" com a poeta Bruna Beber no Sesc Ipiranga, Agosto/17.

| sigo |


dentro
ou fora
do já estabelecido
tempo
per corrido

sou
existo
e vivo
porque ainda respiro

nos tantos murros
dados
vai faltando ar
sobrando hematomas

um único corpo
pra tantos capatazes

cada vez
é menor

a vontade
a espera
a gana

de continuar


abatida

por hora
sigo

só não prometo
(nem desejo)

ser infinita.


(jm)